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João Marques Ramalheira
In "Canção do Mar"
Falar de Ílhavo, é falar do mar - do seu sussurro, da sua canção cujo eco se repercute pelos séculos além. Ílhavo e o mar andam tão unidos como o perfume às rosas e a inquietação à alma humana!

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A Corvina da Chinchada....

O Xim-Pó-Pó / Chio-Pó-Pó

Temas:  #Carnaval

 O XIM, PÓ, PÓ (1) nome original de 1897


O Carnaval de 1897 foi palco de uma charge politico-local, que deu brado na região e acabou no tribunal.
Subira ao Poder o partido progressista, chefiado por José Luciano. Ílhavo estava esperançado, assim o prometera o novo Governo, pela boca do conselheiro Manuel Firmino, na reintegração do concelho, que em 26 de Novembro de 1895 havia sido incorporado no concelho de Aveiro. (Havemos de falar neste acontecido em próxima crónica).
Os ares andavam turvos em Ílhavo. Ninguém se conformava com a extinção do concelho, e, a subida ao poder de um novo Governo, veio dar ânimo aos ílhavos. Embora divididos em duas facções, a dos depostos e a dos que subiram à chefia, uma coisa a todos unia: a reintegração do Concelho.
No “Campeão das Províncias” de Aveiro, publicava um cronista ilhavense, em “Carta de Ilhavo” semanal, a história trágico-jocosa que ficou pelo Xim-Pó-Pó.
A essas “cartas” nos reportamos.
Em “carta” de 7 de Março do citado ano de 1897 começa a narração. Demos-lhe a palavra.
“O procedimento, nada justificável, do nosso regedor...”
Desempenhava o cargo na altura o sr. José do Largo Imaginário, lavrador abastado e progressista de sua política. Mas sigo a “carta”.
“...a intriga revoltante de certas individualidades, despertaram, entre o público Ilhavense, uma elevada indignação que é um agravamento sinistro da situação política d’esta vila”.
A subida ao Poder dos progressistas fora aplaudida por grande número de Ilhavenses.
“Factos recentes, porém, revestidos de circunstâncias ponderosas (o cronista não cita a que factos se refere) fizeram substituir a sympathia que, por ventura, se nutrira, por manifesta antipathia. Porque alguns dos nossos melhores rapazes exhibiram no domingo gordo uma tão engraçada quão inofensiva charge à manifestação realizada, quando subiu ao poder o actual ministério, manifestação essa que foi um rosário de episódios grotescos, referve agora o ressentimento e fervilha a intriga, a pontos do regedor proceder contra os alegres rapazes, que cometeram o único delito de divertir e despertar a hilariedade ao publico. Na praça, na ocasião em que se cantavam uns couplets allusivos, nephelibatas, unicamente engraçados, aquele funcionário intimou o grupo a que terminasse com a “brincadeira...”.
De entre o grupo brincalhão, que cantava em cégada carnavalesca os versos que andam reproduzidos nas bilhas e pratos da Vista Alegre, retorquem, em protesto, o dr. Samuel Maia e Diniz Gomes que fizeram ver ao sr. Regedor “que não se alterava a ordem, não se ofendia a moral publica, nem se feriam susceptibilidades” e, por isso, se recusavam, firme, mas cortesmente, a anuir à injusta intimação, seguindo com a farsada.
E segue o correspondente de “O Campeão”, na referida “carta”:
“Não eram aqueles rapazes, que se prezam de ser delicados e ordeiros, capazes de insultar a autoridade. Entre eles achavam-se: 1 medico, 1 pharmaceutico, 3 estudantes, 2 ourives, 2 relojoeiros, 4 empregados públicos, 2 negociantes e um empregado comercial, 1 pintor e um oficial da marinha mercante”.

MANUEL MACHADO DA GRAÇA
1 Março de 1981

O XIM,PÓ, PÓ (1A)

O sr. Regedor, sentindo-se desautorizado, moveu um processo ao Grupo do Xim-Pó-Pó.
A gaseta do Corgo Comum, “Os Sucessos”, propriedade e direcção do sr. Marques Vilar, meteu-se no assunto e, porque era progressista, contou as coisas a seu modo, puxando a brasa à sua sardinha. O cronista, que na referida “carta” se confessa amigo do sr. Marques Vilar e de “Os Sucessos”, de que era até colaborador, insurge-se contra a posição tomada por este jornal, nestes termos:
“...não passarei sem registrar aqui a minha indignação perante a alteração da veracidade dos factos que os Sucessos de hontem nos trazem... os figurantes da charge não se muniram de licenças prévias porque a polícia não as possuía, nem recommendações superiores recebera a tal respeito”.
Mas as coisas complicam-se. A certa altura arma-se uma desordem. Foi o caso que o piloto João Pereira Ramalheira Júnior, (pai do nosso amigo Dr. Paulo Ramalheira) que fazia parte do Grupo do Xim-Pó-Pó, em brincadeira carnavalesca, pelos vistos costumada, e que veio até aos nossos dias, empoou a esposa de um tal Manuel Marques (?) com “pós de amido”. O Marques não gostou e, à falsa-fé, deu uma “formidável bofetada” no empoador, pois entendia que n’uma mulher honrada não se deitam pós (sic.). O Ramalheira responde-lhe com “dois valentes murros”. Estabeleceu-se desordem. De um lado o Marques e amigos. Do outro o piloto Ramalheira e companheiros.
“Os Sucessos” afirmava que a facção Ramalheira era o Grupo Xim-Pó-Pó. A este grupo foi movido um processo de polícia.
O cronista descreve com pormenores estes factos e afirma que:
“Vão tocar a Aveiro no dia do julgamento as philarmonicas de Ilhavo e Vista Alegre”.
A questão tem mais que se lhe diga, mas fica para outro dia, que esta já vai longa.

MANUEL MACHADO DA GRAÇA
15 de Março de 1981

O XIM, PÓ, PÓ (2)

Em “carta” da 14 de Março de 1897 continua o correspondente, em “O Campeão”, a historiar o processo do Xim-Pó-Pó.
Atira-se a “Os Sucessos” pela forma facciosa como narra o sucedido no Carnaval desse ano. E diz:
“O sr. Marques Villar atreve-se a elogiar o procedimento do regedor que quasi toda a gente qualifica de repugnante, infame, infame mesmo, porque, ao contrário do que se lê em Os Sucessos, significa uma vindicta inspirada pelo facciosismo melindrado. É infame o procedimento d’esta autoridade, porque, além d’outros factos, ousou declarar na participação dada contra nós que na charge se aludia ao sr. José Luciano o que é refinadamente falso. É infame o procedimento do regedor, porque participou para juizo que no Club Ilhavense se discutia política, tentando, d’essa forma, perseguir esta associação a que pertencem as imaginárias vítimas”.
E a “carta” segue desenvolvendo o tema da infâmia do regedor e da forma como é acolitado em “Os Sucessos”.
Conta-se que o regedor, na sua participação, não cita o nome de Manuel Rigueira, que fazia parte do grupo. Que o facto de o Rigueira não ser incluído se “deve atribuir a alguma falta da sua larga imaginação, como disse o sr. Juiz há dias”.
Noticia-se na “carta” que
“Já sobe a mais de 400 o numero de pessoas de ambos os sexos que têm concorrido com 5 reis para a subscrição, com que havemos de fazer face às despesas do processo”.
E a “carta” segue desdizendo a forma como “Os Sucessos” comentam a exibição da charge e o mais que a esse facto se segue.
A questão continua na “carta” de 18 de Março.
O correspondente atira-se ao regedor, a “Os Sucessos” e respectivo director-proprietário, a outro jornal, o “Districto” (de Aveiro, suponho) e por fim ao “Primeiro de Janeiro”, que também se meteu no assunto.
O regedor fora entretanto exonerado, e o correspondente aconselha-o a que
... “Vá desabafar no remanso dos campos a sua mágoa. A sua glória foi fulgurantíssima, mas transitória”.

MANUEL MACHADO DA GRAÇA
1 de Abril de 1981

O XIM, PÓ, PÓ (3)

Em “carta” de 28 de Março o correspondente comenta com energia o aparecimento em “Os Sucessos” de uma carta de um tal José Felix (?) que vem a público com “falsidades revoltantes, criminosas mesmo”.
Noticia-se que o julgamento está marcado para 9 de Abril.
Em 1 de Abril nova “carta”. Nela se dá conta de uma “Declaração” que Diniz Gomes fez publicar em “O Campeão das Províncias” que desmentia a acusação de que na entrudada do Chio-Pó-Pó se havia insultado o sr. Ministro do reino.
“Ninguem, como tenho dito, exibiu qualquer alusão ao sr. Ministro do reino, não foi Diniz Gomes nem ninguém “cabeça de motim” porque nem houve motim, não houve a menor alteração da ordem, nem a mascarada teve directores”.
Aquiescendo a pedido do Dr. Marques Moura, defenderá os réus o Dr. Elmano da Cunha, advogado em Lisboa.
Do nosso arquivo não consta qual a sentença proferida.
Tenho, porém, ideia de que foram todos absolvidos.

HINO DO XIM-PÓ-PÓ

Um túnel p´rá Costa Nova

Um farol na Rua Nova

E p'ra nos outros dar sova

Um diário semanal!!

Correio a todo o momento

E uma estátua de cimento

Feita ao burro lazarento

O nosso chefe ideal !!!

À urna, pois, eleitores

Aceitai nossos favores

E esta súcia de impostores

Correio-os todos a pau !!

É fazer assim, assim

Xim-Pó-Pó, Xim-Pó-Pó

É fazer assim, assim

Xim-Pó-Pó, Pó-Pó-Xim

GRUPO DO XIM-PÓ-PÓ

Samuel Maia, médico, literato e, quanto ao carater, uma joia.
João Francisco da Rocha, artista sério e trabalhador.
Eduardo Craveiro, um generoso rapaz, ourives.
José Craveiro Júnior, irmão do anterior, também ourives.
Diniz Gomes, farmaceutico distinto, literato e correspondente de jornais.
Manuel Sacramento, negociante.
Manuel Teles Júnior, ourives.
Manuel Machado
Samuel Ramos, o mais novo, ourives.
João Pereira Ramalheira Júnior, piloto, empregado na casa Bensaude.
José Mendonça, pintor da fábrica da Vista Alegre.
Joaquim Rei Neto
Álvaro Quaresma

Manuel Rigueira

José Sacramento

Quim Camarão

xi


MANUEL MACHADO DA GRAÇA
15 de Abril de 1981

Texto do Ilhavense  Manuel Machado da Graça (co-autor da revista P'ra Inglês Vêr), por especial deferência de seu filho Machado da Graça, autor do Blog  http://manuel-machado-graca.blogspot.com/


Na década de 70 um grupo de Ilhavenses constituiu a Associação Chio-Pó-Pó e organizou durante alguns anos O Carnaval em Ílhavo, sendo a Comissão inicial formada por:

  • Eduardo Labrincha

  • Francisco Ramos

  • Francisco Torrão

  • Guilhermino Ramalheira

  • João Carlos

  • João Carvalho

  • João Cura

  • João Vieira

  • José Morgado

  • José Paroleiro

  • José Saraiva

  • Mercedes Simões

  • Ricardo Ançã

ESCRITURA DO CHIO-PÓ-PÓ

PARTICIPANTES DO CARNAVAL DE 1989


Os cartazes dos Carnavais organizados:

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